O que te faz diferente? E por que isto importa tanto?

No mundo atual, práticas como a harmonização facial e o uso das redes sociais revelam um fenômeno curioso: a tentativa constante de equilibrar pertencimento e diferenciação. A partir do conceito de "narcisismo das pequenas diferenças", introduzido por Freud, é possível entender como pequenas distinções ganham grande importância em nossa construção de identidade. O texto reflete sobre o impacto das redes sociais e padrões estéticos, destacando como a psicoterapia pode ajudar a questionar essas imposições e promover um olhar mais profundo sobre a busca por validação e autoestima.

Gilberto Baldi

5/8/20241 min read

grayscale photo of woman in black brassiere
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Fenômenos como a harmonização facial e o uso das redes sociais podem ser compreendidos sob a ótica do conceito de narcisismo das pequenas diferenças, introduzido por Freud em 1918 e desenvolvido em obras como Psicologia das Massas e Análise do Eu (1921) e O Mal-Estar na Civilização (1930). Essa ideia descreve como diferenças sutis entre indivíduos ou grupos semelhantes são amplificadas para reforçar identidades e criar distinções.

Em um mundo mais atual, esse conceito ganha força ao observarmos como práticas sociais, especialmente estéticas, são estratégias para equilibrar pertencimento e diferenciação. A harmonização facial, por exemplo, simboliza esse paradoxo: busca-se, simultaneamente, adequar-se a padrões estéticos e destacar-se de maneira única.

Nas redes sociais, essa dinâmica se intensifica. Filtros, edições e a “cultura da imagem perfeita” dão uma relevância desproporcional a pequenas diferenças. Indivíduos, principalmente adolescentes, buscam validação externa por meio de mudanças estéticas, tentando alinhar-se aos padrões esperados enquanto tentam preservar algo exclusivo em si mesmos.

Essa relação com a imagem pessoal reflete um narcisismo cultural, no qual autoestima e validação dependem de comparações externas. Porém, essa busca muitas vezes resulta em insatisfação, já que o ideal é continuamente redefinido.

A psicoterapia pode oferecer um espaço para questionar essas imposições sociais e explorar as motivações por trás dessas escolhas. Não se trata de negar as transformações estéticas, mas de compreender seu significado emocional e psicológico.

É essencial lembrar que o narcisismo não deve ser visto apenas como algo patológico. Ele é parte fundamental da construção do ‘eu’ e da autoestima, permitindo-nos nos situar no mundo. O problema está na forma como o narcisismo é externalizado e usado em comparações sociais.

Pequenas diferenças, à primeira vista superficiais, carregam profundas implicações sobre quem somos e como nos posicionamos. Nesse espaço entre o que vemos e o que somos, surgem possibilidades de reflexão e transformação.